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ESSA PANA É UMA TECNOLOGIA?

Uma sacola é uma tecnologia? Uma erva usada para curar é uma tecnologia? A amarração de um tecido é tecnologia? Qual é o imaginário que compartilhamos sobre o que é tecnologia?

As respostas mais usuais chegam como artefatos, metais, máquinas, foguetes, robôs, armas, bombas, carros. Num imaginário quase sempre recheado de tecnologia como algo mítico, quase mágico, distante de nosso controle. A tecnologia surge como algo que organiza nossos mundos, sem que tenhamos o poder de controlar seus caminhos. Não faltam filmes retratando o mundo apocalíptico quando as máquinas nos sobressai. A violência invariavelmente surge nessa imaginação como prima irmã da tecnologia: dominação, medo, angústia, destruição e controle são parte do mesmo pacote. A masculinidade inventada desse tecnologicamente hábil, e aquilo que entendemos como tecnologia está vinculado ao mundo construído como masculino.

Existem outros modos possíveis de pensar a tecnologia? Seria possível pensarmos que o cuidado, o recipiente, a sacola, a cura e a terra poderiam habitar aquilo que imaginamos como tecnologia? Não são esses também artefatos, ancestrais, utilizados pela humanidade para construir nossa vida em sociedade? Diferente do porrete, a pana que carrega o bebê (ou o cesto, ou o cabelo, ou…) não goza do mesmo status social - nem tecnológico. A construção do que é feminino habita um lugar distante ao que é tecnológico, e vice-versa. Aquilo que definimos como tecnologia está profundamente relacionado com as ordens de poder instituídas no mundo moderno ocidental. A tecnologia é uma das peças que compõem a estruturação das relações sociais - não como artefato desconexo, mas como molécula organicamente ativa na tecitura do poder.

Reinventar as relações passa também por reinventar o tecnológico. Rever as estruturas de poder do gênero e da raça, passa também por rever as hierarquias da tecnologia. O que entendemos por tecnologia, o que valorizamos como tecnologia, o que escolhemos exaltar como artefatos necessários, são elementos que fazem parte da luta pela transformação. Reivindicamos a pana como tecnologia. Assim como a sacola, a cura, o recipiente, a dobradura, a amarração. Para além de serem tecnologias, essas tecnologias guardam a potência da reinvenção das relações sociais. Carregam a possibilidade de ver o mundo, e a tecnologia, desde o acolhimento e o cuidado. Abrigam as árvores de onde podemos ver brotar a vida, e não a morte. Reivindicam o mundo imaginado onde apenas a violência e o controle são possibilidade, e abrem apenas espaço para guardar, acolher, abrigar as tramas da vida, que são múltiplas e infinitas.
 

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